sexta-feira, 12 de março de 2010

Vodu


História

O Vodu (por vezes chamado de Sèvis Gine ou "serviço africano") é uma mescla de elementos dos povos Ibo, Congo da África Central e o Yorubá da Nigéria, embora outros povos tenham influenciado as crenças voduístas, como os índios Taíno, nativos do Haiti. Várias formas de Vodu existem nos países por onde passaram os imigrantes haitianos. É similar a religiões africanas como Lukumi, Regla de Ocha (ou Santeria), Candomblé e Umbanda, uma religião brasileira.
Grande parte dos escravos africanos que vieram ao Haiti eram da Costa do Guiné, na África ocidental. Seus descendentes foram os primeiros voduístas.
O Vodu africano diferia do Vodu hatiano por este último ter de submeter o seu Iwa (espíritos) ao disfarce de santos católicos.
Vodu como é conhecido hoje é o sincretismo de muitas culturas e etnicidades diferentes. Sob a escravidão no Haiti, a cultura e a religião foram suprimidas, as linhagens foram fragmentadas e as pessoas tiveram que ocultar seu conhecimento religioso, gerando uma unificação.
Uma cerimônia importante para a história do Vodu foi a de Bwa Kayiman de agosto de 1791, que começou a com a revolução haitiana. O espírito de Ezili Dantor possuía um clérigo e recebia um porco preto como oferenda, fazendo com que os presentes jurassem  por liberdade. O povo do Haiti libertou-se da colonização francesa em 1804, quando então o país se tornou uma república.
Com a leva de imigrantes haitianos que fugiam da ditadura de Duvalier para os EUA, o país teve um crescimento em práticas voduístas entre 1960 e 1970.
Além do Vodu existem outras crenças semelhantes no Haiti, como Makaya, Rara e algumas sociedades secretas.
A prática dos bonecos de Vodu não é original do Vodu e tem base em dispositivos mágickos europeus tais como a "poppet". Semelhante aos bonecos também encontra-se o nkisi ou o bocio da África ocidental e central.
No Haiti, Vodu é uma religião oficial. No Brasil se misturou ao catolicismo nordestino e aos cultos afros.
O termo Vodum ou Vodu teve sua origem no oeste dea África, num reino chamado Daomé (atual Benin). Como no século XIX a Igreja Católica demorou por difundir a religião no Haiti, os escravos africanos logo viram a possibilidade de unir elementos do catolicismo com o Vodu.
O presidente haitiano Jean Bertrand Aristides declarou o Vodu como religião oficial do país em abril de 2003. Sendo assim, os casamentos no Vodu passaram a ter valor religioso.
O Vodu foi criado nas Antilhas por escravos africanos que tinham sido vendidos para os comerciantes de escravos pelos sequestradores africanos e transportados para o Caribe. O comércio de escravos ocorreu em várias tribos africanas, por isso a religião tem diferente formas.

Crenças

"A busca permanente pelo oculto, em geral, é o que todos fazemos ao tentar alargar nossos conhecimentos, o que pode ser saudável pois muito do conhecimento filosófico e científico construído pela humanidade se originou de `mistérios tidos como ocultos no passado, mas que estão desvendados no presente." (Any Lilian, psicóloga e professora universitária)

O Vodu é uma religião sincrética e seu sincretismo se deu pela tentativa dos escravos de esconderem a sua religião pagã de seus senhores, que haviam os proibido de praticar.
Além do mais, para combinar os espíritos de muitas e diferentes nações africanas, parte da liturgia católica foi incorporada ao Vodu para substituir rezas ou elementos perdidos. As imagens de alguns santos católicos representam os espíritos.
O Vodu tem raíz semelhante ao Candomblé praticado no Brasil, que também descende de religiões tribais da África.
No Vodu se venera um Deus principal, chamado `Bon Dieux` (Bom Deus) e os antepassados. Os sanguinários ditadores haitianos François e Jean-Claude Duvalier usavam rituais de Vodu para amedrontar suas vítimas. A palavra vem do africano "Dahomey vodun" ou Vodun, que significa espírito.
Acredita-se no Vodu que há um Deus criador de tudo, "Bondje" ou "Bon Dieux", distinguido do Deus dos brancos pelo hougan Boukman em Bwa Kayiman. Bondje é distante de Sua crianção, bem como os espíritos que auxiliam o voduísta e os antepassados. O voduísta adora o Deus e serve os espíritos, que são tratados com honra e respeito como se fossem membros mais velhos de uma casa. São vinte e uma "nanchons" (nações) de espíritos, por vezes chamadas de "Iwa-yo". Algumas das nações mais importantes do Iwa são o Rada, o Nago e o Kongo. Os espíritos também possuem famílias que compartilham um mesmo sobrenome, como Ogou, Ezili, Azaka ou Ghede. A família de Ogou é de soldados, o Ezili governa as esferas femininas da vida, o Azaka governa a agricultura, o Ghede governa a morte e a fertilidade. No Vodu dominicano há uma família de Água Doce, que abrange os espíritos dos índios.
No Vodu haitiano os espíritos são divididos em duas categorias: Rada, que são espíritos frios e Petro, que são os espíritos quentes. Podem ser perigosos se irritados ou contrariados. Diz-se que cada pessoa possui relacionamento com espíritos, em especial um espírito em particular que se diz "possuir sua cabeça". O "met-tet" (como é chamado) pode ser o espírito mais ativo da vida de alguém. Ao servir os espíritos, o voduísta busca conseguir a harmonia com sua própria natureza individual e o mundo em torno dele, manifestado como fonte de poder pessoal relacionado à vida.
O Vodu foi associado à bonecos de Vodu e zumbis. Há uma evidência etnobotânica que se relaciona à criação do zumbi. É um fenômeno menor dentro da cultura rural do Haiti e não propriamente uma parte da religião Vodu. A prática de furar com agulhas bonecos de Vodu para magia simpática é usada por alguns seguidores do "Voodoo de Nova Orleans", uma variante local do Vodu.
Os bonecos de Vodu não fazem parte do Vodu haitiano, embora os bonecos para turistas possam ser encontrados em Port-au-Prince, capital do Haiti.
Maio é o período mais ativo para os voduístas, pois é o mês em que as magias e rituais da felicidade são intensificados.
O panteão do Vodu veio do oeste africano. As entidades desses panteões são pessoas que já morreram, homens que tiveram importância dentro da comunidade religiosa, príncipes e sacerdotes. Essas entidades são loas: os Rada, que são entidades transmitidas por Daomé e os Petros que são entidades que, ao longo do tempo, foram agregados ao Vodu.
Uma crença Vodu diz que os primeiros homens criados eram cegos e foi justamente a serpente que conferiu visão à espécie humana. Isso explica alguns cerimoniais voduístas com serpentes.
Os voduístas haitianos crêem que o homem possui duas almas: Gros bon ange (grande anjo bom) tem a capacidade de sair do corpo enquanto a pessoa dorme. Se não retornar, a pessoa morre. Petit bon ange (pequeno anjo bom) protege e guia o adepto. Quando a pessoa morre, ela permanece por alguns dias guardando o corpo. Somente um período de nove dias após o sepultamento é realizado um ritual para afastá-la.
Os praticantes acreditam que Petit bon ange se transforme em algum objeto ou animal, geralmente uma serpente. Após a transformação, se os rituais (realizados pelos parentes) forem negligenciados, a vingança de Petit bon ange se volta contra eles.
O propósito do Vodu é permitir que os loas, que possuem o poder das forças naturais, se manifestem no corpo humano vivo, de modo que a pessoa possuída possa ser fortalecida por sua energia e sabedoria divina.
Diz-se que quando a pessoa fica sob a possessão de um loa, o espírito sobe em seus ombros da mesma forma que um cavaleiro monta um cavalo.
Sem a posse dos corpos físicos e as oferendas deixadas na encruzilhada à meia-noite, os loas deixariam de existir.

A Prática

Não é uma exigência ser iniciado para servir os espíritos. A responsabilidade do clero no Vodu é preservar os rituais e canções e manter o relacionamento dos espíritos com a comunidade. Os sacerdotes são chamados "hougans" e as sacerdotisas "mambos". Os noviços são "housins", dedicados aos seus mistérios pessoais. As pessoas servem aos espíritos de acordo com a sua natureza e estes são revelados por meio de cerimônias, leituras ou sonhos. Mas elas também servem aos seus antepassados de sangue e o culto a eles é a base da religião Vodu.
Durante um dia ou dois prepara-se os altares e alimentos para a cerimônia. Então começam os rituais com algumas preces e cantigas católicas, uma litania em Kreyol e no "langaj africano" que abrange todas as entidades da casa e depois uma série de invocações para os espíritos principais da casa. Após canções introdutórias e o saudar de Hounto, espírito dos tambores, canta-se para a família de Legba com todos os espíritos de Rada. Então a parte Petro do ritual começa e logo após cantigas para a família Ghede. Então os indivíduos são possuídos pelos espíritos, que dão consultas, conselhos e curas. Nas primeiras horas da manhã as últimas canções são entoadas e despede-se os convidados.
O voduísta tem um altar para os seus antepassados e os espíritos que serve com imagens dos espíritos, perfumes, alimentos e outras oferendas. O altar mais simples consta de uma vela branca, um copo d`água e talvez uma flor.
Em alguns lugares a iniciação é o sèvis-tet ("lavagem de cabeça"). Em outros é o kanzwe (ou kanzo) com três classes de iniciação.
O Vodu possui um templo com uma coluna central chamado poteau-mitan, repleta de desenhos decorativos chamados vevers. Esses desenhos são representações heliográficas das entidades. Essa coluna é considerada sagrada pelos seguidores.
O Vodu é considerado por alguns como religião matriarcal, na qual a mambo é conhecida também como rainha, porém é o hungan que preside o hunfort, o santuário religioso.
As cerimônias são realizadas no período noturno. Bebidas de rum e frutas e sacrifícios de aves, porcos, galinhas, bodes e outras oferendas são oferecidas aos loas, que possuem os corpos dos indivíduos.
As serpentes fazem parte de alguns rituais. No ritual chamado mambo a sacerdotisa toca em uma serpente retirada de um cesto. Supostamente ela recebe visão especial e poderes sobrenaturais.
O boneco de Vodu é feito para invocar os poderes dos Deuses e é chamado de fetiche, que significa feitiço. Durante o ritual em que se faz o boneco a pessoa deve mentalizar seus objetivos e transmitir energia ao boneco.
O boneco deve ser feito semelhante a pessoa que vai representar e é importante modelar seus órgãos genitais. Ele precisa ser batizado com o nome dessa pessoa e geralmente é feito de barro.
O boneco deve ser feito para realizar o bem, para alcançar prosperidade e cura.
Os zumbis dos quais se ouve muito falar são resultado de uma mistura de ervas que deixa a pessoa em um estado de morto-vivo. Para o médico Carlos Alberto Serafim, esses compostos deixam o batimento cardíaco mais lento. As ervas usadas pelos sacerdotes dilatam as pupilas, fazendo a pessoa perder a sensibilidade à luz e deixando-a em um estado de transe, o que facilita o ritual.
O pesquisador e antropólogo do museu botânico da universidade de Harvard, Estados Unidos, Wade Davis explica:
"O ritual se dá por meio da magia negra (...) a vítima tem todo o indício de morte aparente, quase não respira, tem a pele fria, quase não tem pulsação e, mesmo assim, está viva."
Isto se deve ao fato da pessoa ficar horas sem oxigenação no cérebro, o que reduz o seu nível de consciência. Entre a fórmula utilizada pelos feiticeiros encontra-se narcóticos, tetradotoxina, veneno neurotóxico e até veneno de rãs.
A magia negra é praticada por bokors. Sacerdotes que trabalham com integridade dificilmente adotarão esta prática no Vodu.
Cada loa deve ser reverenciado em seu dia próprio e alimentado com oferendas de galinhas ou cabras sacrificadas, frutas e outros alimentos.
A música tem muitas funções em um ritual Vodu. A combinação de ritmos tocados por baquetas, tambores médio e mestre e um par de pratos de metal chamado ogan coloca os dançarinos em transe. A manipulação do ritmo, da métrica e de interrupções rítmicas chamadas casses ajuda a compor o cenário do ritual.

Legado para a Sociedade

No Vodu considera-se fundamental valores como honra e respeito - ao Deus, aos espíritos, à família, à sociedade e a si mesmo. Há o que é apropriado e o que é impróprio para cada indivíduo de acordo com os espíritos que a pessoa serve. O amor e a sustentação são valores importantes. A generosidade em dar à comunidade e aos pobres são outras características.
Como o Vodu é uma religião extática e não de culto à fertilidade, não discrimina homossexuais. Existem templos ao redor do mundo presididos apenas por hougans e mambos homossexuais.

Vamos fazer magia?

O Vodu do amor

O Vodu não transmite apenas a magia negra, cujo propósito é ferir alguém. As pessoas que trabalham com Vodu são também vistas como peritas no amor; em resguardar o amor, em restituir o amor e... vingar-se de um parceiro traidor!
Uma mulher solteira que queira encontrar um noivo, e a ênfase aqui está no noivo, ao contrário de um homem para uma única noite de prazer, deve comprar um dedal de metal novo, como os que se usam para costurar, com seu próprio dinheiro. Então, ela deve pegar uma peça de vestuário vermelha e cortar um pedaço de seu tecido que tenha um tamanho suficiente para embrulhar o dedal. Deve embrulhá-lo em uma manhã de domingo. (Alguns dizem que é melhor embrulhá-lo em uma manhã de domingo após o seu ciclo menstrual.) Ela deverá costurar o pedaço de tecido ao redor do dedal com linha vermelha.
Daí por diante, ela não deve sair de casa sem o dedal embrulhado em sua bolsa ou bolso. Precisa também dizer a si mesma, em silêncio: "Assim como este tecido envolve o meu dedal em amor, assim também o meu pretendido me envolverá com seu amor."
Após ter encontrado um noivo - e quando um feiticeiro ou feiticeira de Vodu promete um noivo, com certeza ele virá - a mulher deve queimar o pedaço de pano e a linha vermelha, e enterrar o dedal na terra. Ela nunca deve contar a seu marido sobre os meios pelos quais conseguiu conquistá-lo.
O uso deste feitiço é bastante difundido no sudeste nos Estados Unidos (principalmente na Flórida e Louisiana) e nas ilhas do Caribe.
Em Cuba, existem pessoas que dizem que uma mulher deve furar seu dedo com uma agulha, enxugar o sangue em um pedacinho de tecido e embrulhar o dedal com este tecido.
Na África, o berço do Vodu, há um costume em que uma mulher solteira pica o pênis de seu irmão mais velho com uma agulha, umedece um pedaço de tecido branco com o sangue e passa a carregar este tecido com um prego, em um pequeno saquinho de couro entre seus seios. Já que a atividade sexual é permitida e encorajada entre mulheres solteiras nessas tribos, há tribos em que uma mulher que deseje se casar deve introduzir o pedaço de tecido em seu útero toda vez que tenha relação sexual com um homem que não seja o seu pretendido marido. (Na realidade, o tecido serve como um dispositivo anticoncepcional.) Quando chegar o homem com quem ela pretende se casar, o pedaço de tecido permanece no saquinho de couro.

"Tudo Sobre a Wicca do Amor", Tabatha Jennings, editora Madras.

Sici.





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